sexta-feira, 4 de julho de 2008

É preciso dizer mais alguma coisa?

"O que faz andar a estrada? É o sonho. Enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá viva. É para isso que servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro".

(Terra sonâmbula - Mia Couto)

terça-feira, 1 de julho de 2008

Sine cera

Por Samira Tavares

Ícaro, personagem da mitologia grega, quis voar, tocar os céus, e para isso derreteu cera com o objetivo de colar duas asas em si mesmo. Com isso, numa de suas tentativas, o calor derreteu a cera e ele despencou no mar próximo a uma rampa na ilha de Creta, hoje chamada “rampa de Ícaro”, na Grécia. Alguns defendem a tese de que a partir daí surgiu a expressão sinceridade, que do latim é sine cera, ou seja, sem cera, sem nenhum artifício, transparente, original.

A estória da Torre de Babel se assemelha nesse aspecto, já que ali o sentimento também era o de chegar “às portas” de Deus através do próprio esforço. E mais uma vez a tentativa de se virar sem Deus falhou.
Posso citar vários e vários exemplos de pessoas que tentaram ser e ter alguma coisa ao longo da história subestimando o senhorio de Deus e se baseando em sua pseudo capacidade. E ultimamente me parece ainda mais que estamos nos afogando em nossa própria formação, eloqüência, talento, experiência etc etc etc. É claro que isso não agrada a Deus, mas o que me intriga é o fato disso ainda agradar e seduzir de maneira tão cega o povo Dele.

Ao mesmo tempo existem aqueles que dizem não querer aparecer, que buscam o anonimato. Desculpe se te escandalizo, mas para mim alguns destes pecam da mesma forma, pois se escondem tanto que nem o próprio Deus os encontra! Estes, que começam com um sentimento genuíno de se portar sinceros diante de Deus, acabam vítimas do próprio discurso e muitas vezes se afastam do chamado de Deus para si com uma fala acomodada de que não precisam da evidência das plataformas. Parece-me que precisamos sempre de artifícios para fugirmos daquilo que Deus tem para nós. Seja na soberba ou no descaso disfarçado de humildade, nunca nos apresentamos verdadeiramente sinceros diante de Deus.

Fui ao cinema recentemente assistir as Crônicas de Nárnia e me chamou a atenção um diálogo onde, diante de um grande desafio em que uma nação estaria nas mãos de um jovem príncipe, este se ajoelha e teme não estar preparado sendo advertido pelo Leão Aslan que diz que o fato dele se sentir despreparado o faz verdadeiramente estar preparado.

Na hora pensei: quero ser assim! Não quero me apoiar na minha própria habilidade nem me deixar envolver por medos e baixa auto-estima. Quero simplesmente ser sincera diante de Deus e confessar minha incapacidade, porém certa de que estarei no lugar que foi separado para mim, seja na evidência, seja no anonimato, seja em nenhum dos dois.