quinta-feira, 15 de maio de 2008

Portas que dão para dentro

Sim, eu poderia abrir as portas que dão para dentro
Percorrer correndo corredores em silêncio

Por Samira Tavares

Por que será que às vezes em meio a tantas pessoas nos sentimos sozinhos? Não digo fisicamente sozinhos, mas em nossos pensamentos, delírios, devaneios, ou, seja lá qual for a “psicosolidão” que se esteja vivenciando no momento.

Por mais que tenhamos um amigo íntimo, esposa, namorado, pai, mãe, cachorro, papagaio com os quais tenhamos afinidade, sempre existirá um lado só em nós.
Em mim este lado ecoa freneticamente na alma todos os dias.

E é assim diariamente, um cotidiano de solidão intelectual. Tenho necessidade diária de mergulhar em mim e desvendar meus próprios mistérios, e nessa imersão sou plena, sou eu, sou forte. Não me preocupo com o que vão pensar nem com o exemplo que devo dar a alguém, não preciso buscar palavras adequadas para me expressar, viajo por e para dentro de mim e curto delícias de pensamentos e filosofias vãs que nunca serão compartilhadas ou, quem sabe um dia, serão seguidas por outros solitários em pensamento.
Não há ponto turístico mais interessante no mundo que a minha própria psiqué. Nela sou o que sou, sou bela e feia, amo e odeio, odeio e amo, luto, travo batalhas homéricas no meu eu, converso comigo, canto, grito, declamo poesias sem fim, vivo, morro, choro, dou gargalhadas!

E quando me deparo com tamanha intensidade verborrágica e sensorial, percebo que não estava só como havia tolamente entendido. Percebo sim que, durante todo o tempo, havia algo muito mais inebriante, veemente e forte que me desafiava em todo momento. Era Ele mesmo, aquele Espírito que nos faz santos! Foi Ele quem me fez abrir as portas que dão pra dentro e, de mãos dadas, percorremos os corredores da minha alma. Na nossa viagem diária, Ele me diz onde sou forte e onde não sou, onde há sujeira, onde há poesia, beleza, dor. E, mais uma vez, percebo que não tenho necessidade diária de mergulhar em mim - como disse anteriormente - e sim que o Espírito que me soprou fôlego de vida tem prazer diário em ser o mergulhador e pescador de pérolas e tesouros escondidos no mar do meu ser.